sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Poema do sonho



Olhinhos fechados
Papai do Céu velando
A criança dorme
E ri e brinca no sonho
Quer ser uma fadinha
Para florir o jardim
Correr ao vento
Dentro dos girassóis
Flip, flip, flop
Com sua varinha
Fazer um arco-íris
Pois tem medo de chuva
E se chegar a noite
Convidar uma estrela
Para enfeitar o teto do quarto
Porque criança não pode
Dormir no escuro...


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O banho da perereca




Na boca dum pote de barro
Uma perereca estira pernas e coxas dianteiras
Ploc,  ploc, ploc... Espirra água nas paredes do pote
“Vou lavar a barriguinha!”
Arrasta o som no silêncio da cozinha
Agita os bracinhos
Ploc, ploc, ploc... As bolhas subindo
Com as batidas das mãozinhas na superfície da água
Resolve brincar de explorador
“Uaauuu! Que águas escuras!”
E mergulha agitando a cabeça
Sleep, sleep... Ouvem-se as nadadeiras
Em movimentos circulares conhecendo o território
Roque... roque... roque
Vibra a perereca
Dentro do pote
Em puro mistério serelepe
Boia um pouquinho
Então salta faceira na boca do pote
E veste o roupão!


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Nina- nana




A luz, as cores
Os sons desconhecidos a assustam!
E a criança em seu mundo novo
Movendo os bracinhos
Numa voz trêmula a chorar:
Uaaaah! Uaaaah!
... Acabara de nascer!...
Seus dedos numa doçura boa
Vindo de encontro à boca...
... Como são bonitas suas feições!
Vestido de róseo
O pequeno corpinho no berço
Despertando sentimentos no pai
“Ninnanãna... ninanãaaam...”
O coração a modular!
E outro choro...
Uaaaah! Uaaaah!
Achega-se a avó
Com palavras ternas e cheiro de flores
Mas parece toda atrapalhada...
... Perdera o jeito de ninar!
Ah, linda netinha!
Vieste num sonho cor de rosa
Colorir os nossos dias
Deixa eu te embalar numa alegre canção
Minha bonequinha!
Sonha com anjos em nuvens azuis
Aqui tua avozinha está a ti embalar...
Ninnanãaaam...


sábado, 21 de novembro de 2009

Brincando de casinha




Patrícia abre a meia-porta de madeira da cozinha
(O quintal estava recebendo os raios primeiros do sol)
Embaixo da mangueira antiga sua caçula brinca de casinha
Uma vassoura pequenina de palhas de carnaúba nas mãos
Vruc... vruc.. vruc..
... Arrastando as folhas secas...
Puxa o sofá de caixas de fósforo
O estofado é de papel de presentes
Ouve-a ralhar com a boneca
_Mimi, Espana os móveis direito! Essa menina!
Há um sorriso no tom da voz da criança
Após, caminha em direção a um pé de milho
"Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada..."
Ainda cantarolando, recolhe um dos verdes frutos
Acaricia com um sorriso tenro e brilhante os cabelos da espiga
_Minha filhinha vai gostar de ganhar uma boneca!
Retorna com a graça de uma borboleta volteando nas flores
Da porta da casa, com a xícara de café já frio
A mãe deixa a lágrima correr ternamente na face
Na casinha, a menina senta-se com a boneca de pano no colo
E fica a explicar da vida...


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Presente de Natal






Subindo o morro sente o vento. Seu fim de dia está alegre apesar da barriga vazia. Mora com a mãe num casebre pobre e sem muita alimentação. Por vezes ouve os amigos falarem de outros pastos verdes; mas não se entristece, o pouco que têm conforta-o e à mãe. Inspira-se nos sons de seus passos lentos, porém certos de aonde vão. É quase Natal; Jesus está no meio dos homens!... Enche-se de emoção da lembrança de um azurrar emocionado (No Natal passado ganhara uma braçada de capim fresco. Vira nos olhinhos da mãe uma lágrima de felicidade que era dele; e como deveria ser, comeram juntos do Presente do Céu!)

Deixara um bilhete em cima da cama de palhas antes de sair. Soubera que estavam selecionando jumentos para as comemorações do Natal que seria naquela noite e não tivera tempo de falar com sua mãe. Imaginou-se ao lado do presépio na praça central da cidade olhando o Menino Jesus na manjedoura; as crianças em redor com os rostos bem-aventurados.

Havia o presente do "Bom Velhinho" para os puros de espírito e seu pedido fora para sua mãe!

O coração desce morro abaixo: Zump zump zump. Ouve um bimbalhar no ar como se fossem já os sinos de Belém e anima-se. Com isso, sobe e desce o morro sem dificuldades.

Lá está a igrejinha com suas portas abertas a dezembro! Era já fim de tarde e o sol corria os últimos dedos no céu do dia. A mata circundando o restante do caminho íngreme não o assusta. Antes, acelera mais os passos erguendo os olhos: A noite está se decorando de luzes da cidade!

Entusiasmado, com as árvores citadinas enfeitadas de motivos natalinos, coloca a pata direita na frente e segue. Dentro do peito uma estrela flameja pequenina.

Noel descerá pela chaminé de seu casebre com uma braçada de capim fresco e o deixará ao lado da cama de Dona Burrica, sua mãe, com um cartãozinho escrito com as mesmas patas pequeninas que agora pisavam o chão da pracinha.

"Mãe,

Este ano quem te presenteia com um Natal especial, sou eu. Pois fui presenteado ao te ganhar de Jesus!

P.S. Abraço-te, depois da meia-noite!
De teu filho,
Burrico."

domingo, 8 de novembro de 2009

A menina do livro




No jardim da casa, ao lado da varanda há uma menina. Os grilos cantam suas campainhas e os mosquitos zunem de todos os lados. Ela, pernas cruzadas, o cabelo em rabo de cavalo, vestido de bolinhas com listas azuis, embaixo de uma frondosa mangueira, pousa os olhos no livro entre as mãos...
É tão lindo o castelo! Suas torres rasgando o espaço! Um caminho de pedras em tons esverdeados e uma roseira em cores brancas contornando-o. Podia-se ir por ele a qualquer ponto do castelo. Ouve-se uma suave canção de um piano dentro da noite! No céu, uma lua enrolada em nuvens escuras deixando um tom de mistério no ar. Porém, ela não sente medo! Segue tranqüila pela alameda de flores. Ouve vozes e sossega o coração. Mas ele não estava atribulado, ao menos julgara que não!
Um novo mundo que a encanta! Vê a sala ricamente ornada de móveis antigos. Flores em vasos de barros - jasmins, violetas, acácias e buganvílias!  Há adornos de ouro nas colunas. E lá está o piano! Não sonhara!  E a menina visualiza um menino tocando-o. Sorri para ele que lhe retribui, logo voltando a sua música, esquecido de que ela está ali. Descobre anjos desenhados nas paredes ao lado de quadros de família. Em uma das pinturas há uma menina. Aproxima-se para ver melhor. Assusta-se!
 No quadro é ela! Uma figura antiga com cores desbotadas!  Chapéu de plumas de cor róseo, um vestido de babados, uma covinha no rosto sorridente como no dela. Sapatinhos de cinderela e cachos longos e sedosos nos cabelos. A menina no quadro faz um gesto com as mãos chamando-a...
Sente o vento frio da noite. Um leve bater de janelas abrindo-se. Por cima dos móveis agora lençóis brancos- frios! As flores dos vasos murchas!  Procura pelo menino. Está lá, olhos perdidos no tempo, como a visualizar algo que ela não vê. Ouvem-se os suspiros da menina- talvez uma lágrima mansa a descer...
O negro dos olhinhos, busca amedrontado o caminho de volta. Tum... Tum... Tum! O coração sobressaltado, encolhido dentro dela. Na garganta uma voz muda que grita um nome: MÃE!
Até os grilos se assustam!  E antes que surjam os gnomos e as fadas, ela levanta-se do gramado e corre em direção a sua casa...

sábado, 10 de outubro de 2009

A lagartixa Zé

O vento quente bate-lhe na pele seca queimando o rosto. A terra semideserta arrasta-se à sua frente. Eram já dez horas da manhã e com receio de ficar muito tempo exposta ao sol a lagartixa Zé apressa-se em procurar comida.

Sozinho e sem ter se alimentado ainda, Zé ouve a barriga roncar. Admira o sol que reina no céu azul com seus raios quentes. Para um instante nessa contemplação. Fosse cedo da manhã seria bom estar a olhá-lo e a se aquecer. Ensinaram-lhe a admirá-lo com respeito; pois ele também trazia a morte rápida dos répteis pelo superaquecimento da mucosa da pele. Certo disso,continua sua busca.

Seus pés começam a sentir certo perigo. Lembra-se de fatos contados por seu primo Torote. Um dia a dona da casa em que o primo morava viera com uma vassoura expulsá-lo da lâmpada onde se aquecia. O susto fora tão grande que ele perdera o rabo na corrida. Zé rira da história quando Torote num tom de menino dissera: “Ora, quem mandou a Dona deixar a parede com toda aquela sujeira perto da lâmpada? Eu fui me bronzear, pois pensei que fosse a praia!”. Só o primo mesmo para se sair com essa!... (Ri-se deliciada da lembrança).

Todavia o medo ronda seu interior. O dia se indo rumo ao centro do sol e ele nas areias quentes do sertão nordestino. Ergue um dos pés. Sente vontade de soprá-lo para diminuir o calor. Apenas agita-o no ar e pisa outra vez na areia fervente. Busca na extensão do caminho uma pedra ou uma árvore. Lá para as bandas do nascente visualiza um pé de canelinha. Era o mês de outubro. Deve haver já flores na planta. O coração se anima. Sempre haverá algum inseto perto da floração.

De súbito, uma quietude do ar quente. Zé arregala os ouvidos e espera com o coração querendo saltar pela boca. Sabe o que é e tem medo. O rabo mexe-se desobediente de sua vontade de ficar parado. Olha os pés de canelinha a alguns metros. Sente os movimentos de outro animal na areia.

Não aguarda para ver o predador. Certamente é uma cobra querendo fazer dele seu almoço. Com a respiração ofegante, assustado, corre. Ainda tem tempo de dar uma última olhada a seu rabo que se revira, inquieto, na areia. Bendiz à natureza por ter lhe dado essa estratégia de defesa e esconde-se no meio de algumas pedras dentro do mato verde.

Seria apenas mais um dia na vida de Zé; não fosse a lei da natureza!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Passarinho na gaiola


Volta-se para a janela de madeira _ larga, sorridente _ os olhos carregados de tristeza. Ainda tem resquícios de datas risonhas. Nem todas as horas de sua vida foram como as de agora. Espaça o olhar. Há, ali, bem à sua frente, uma faveira tão antiga quanto o tempo (...).Os galhos abarcam a céu azul; as pequenas folhas encolmeiam-se neles: envereda a apreciar o tom verde. E sonha, sonha com os pássaros nos ninhos; levando os olhos na largura da árvore. O tronco serviria de casinha se pudesse sair dali e caminhar nele.
Não entende o que lhe dizem. As palavras vêm de longe, muito longe. Talvez uma ventania de lembranças o tenha deixado assim: A alma de pé, assanhada, em revolta. Sente-se solitário. Suspira. Imagens do vento ao largo do peito o assaltam. Quer fugir. Ergue o corpo _ cansado! Num gesto errante, abre os braços. O corpo pesa.
Uns grandes dedos mexem em sua água. Há um desejo de guerra. Apenas deita os olhos! Perde a vontade de ouvir e baixa o corpo. Murmura: “Ó Deus!”... Costuma ver aquele homem risonho, de assobio feliz, nas mãos seu alimento. Exatamente naquela hora em que o sol brinca nos galhos da árvore antiga, deixando mistérios no ar. Respira o suave perfume da tarde. Guarda ainda no armário da memória a cor das flores que nem cheiram, mas as pétalas nunca tinham lhe parecido tão aromáticas como agora – já não pode admirá-las!
Parece impossível que lhe peça para cantar. Ele cantaria preso numa gaiola depois de haver voado pelo céu azul- livre? O homem lhe sorri... Os olhos brilham... Sugerem! _ tornam-se meninos, fazem-lhe festa _ Ele gesticula palavras amigas.
A gaiola balança-se no ar presa ao fio que a suspende. Dentro, o curió empina o peito, afina o bico para o céu alaranjado na tarde. E canta; grande, em assobios, em versos; espantando a tristeza da alma.
Nos olhos, porém, o brilho é de vontade de voar...
Publicado no Recanto das Letras em 17/06/2009
Código do texto: T1652809

O mundo de Nena

A irmã entra com o coração na boca: “Mamãe, a Nena sumiu!”. Coitada! Uma criatura que só vivia para a casa e os filhos fica assustada. Já pensa no marido que logo chegará e na surra da menina por mais uma traquinagem. Desta vez não sabia como ajudar. Seria um deus nos acuda. E se o Batista chegasse zangado?

Dentro da mata fechada a menina não suspeitava do que ocorria em casa e nem das preocupações da mãe acerca de sua pessoa. Seu mundo era na imaginação. Deitada em cima de papelões de caixas ela lia Peter Pan. Se Sininho brincava com ela eu não sei. A única certeza que tenho é que os pezinhos dançavam em cima do mato e mesmo encostando-se aos carrapichos devido ao local minúsculo do esconderijo de leitura ela não sentia nada, nadinha. Seu mundo, uma fantasia. Até tentei gritar para ela tal a mãe sempre faz. Hoje mesmo a primeira coisa que a inocente alma materna fez foi gritar a pulmões soltos no ar:”Nena! Vem para casa, minha filha!”.

Todos na rua. Os olhos seguiam os quatro pontos cardeais procurando a direção em que Nena surgiria. Eram já dezessete horas. O sol escondia-se atrás de uma nuvem indagando destas se não viram a menina fujona. Vizinhos respondem que não a viram, mas que se acalmem, pois nada de desastroso teria acontecido ou já teriam sido inoformados. Notícia ruim era a primeira a chegar. Dona Inocência sabia que o mal era o pai chegar antes da menina. A palmatória cantaria nas mãos finas e magras de sua doce Nena.
De repente, Gislene grita com ar de crítica infantil:
_ Mamãe, ela estava esse tempo todo escondida dentro do quintal. Fazendo sabe-se lá o quê...
Nena era uma guerreira de Pan, sobreviveria! E era minha heroína!
Teresa Cristina flordecaju
Publicado no Recanto das Letras em 06/06/2009
Código do texto: T1635281