segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Nina- nana




A luz, as cores
Os sons desconhecidos a assustam!
E a criança em seu mundo novo
Movendo os bracinhos
Numa voz trêmula a chorar:
Uaaaah! Uaaaah!
... Acabara de nascer!...
Seus dedos numa doçura boa
Vindo de encontro à boca...
... Como são bonitas suas feições!
Vestido de róseo
O pequeno corpinho no berço
Despertando sentimentos no pai
“Ninnanãna... ninanãaaam...”
O coração a modular!
E outro choro...
Uaaaah! Uaaaah!
Achega-se a avó
Com palavras ternas e cheiro de flores
Mas parece toda atrapalhada...
... Perdera o jeito de ninar!
Ah, linda netinha!
Vieste num sonho cor de rosa
Colorir os nossos dias
Deixa eu te embalar numa alegre canção
Minha bonequinha!
Sonha com anjos em nuvens azuis
Aqui tua avozinha está a ti embalar...
Ninnanãaaam...


sábado, 21 de novembro de 2009

Brincando de casinha




Patrícia abre a meia-porta de madeira da cozinha
(O quintal estava recebendo os raios primeiros do sol)
Embaixo da mangueira antiga sua caçula brinca de casinha
Uma vassoura pequenina de palhas de carnaúba nas mãos
Vruc... vruc.. vruc..
... Arrastando as folhas secas...
Puxa o sofá de caixas de fósforo
O estofado é de papel de presentes
Ouve-a ralhar com a boneca
_Mimi, Espana os móveis direito! Essa menina!
Há um sorriso no tom da voz da criança
Após, caminha em direção a um pé de milho
"Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada..."
Ainda cantarolando, recolhe um dos verdes frutos
Acaricia com um sorriso tenro e brilhante os cabelos da espiga
_Minha filhinha vai gostar de ganhar uma boneca!
Retorna com a graça de uma borboleta volteando nas flores
Da porta da casa, com a xícara de café já frio
A mãe deixa a lágrima correr ternamente na face
Na casinha, a menina senta-se com a boneca de pano no colo
E fica a explicar da vida...


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Presente de Natal






Subindo o morro sente o vento. Seu fim de dia está alegre apesar da barriga vazia. Mora com a mãe num casebre pobre e sem muita alimentação. Por vezes ouve os amigos falarem de outros pastos verdes; mas não se entristece, o pouco que têm conforta-o e à mãe. Inspira-se nos sons de seus passos lentos, porém certos de aonde vão. É quase Natal; Jesus está no meio dos homens!... Enche-se de emoção da lembrança de um azurrar emocionado (No Natal passado ganhara uma braçada de capim fresco. Vira nos olhinhos da mãe uma lágrima de felicidade que era dele; e como deveria ser, comeram juntos do Presente do Céu!)

Deixara um bilhete em cima da cama de palhas antes de sair. Soubera que estavam selecionando jumentos para as comemorações do Natal que seria naquela noite e não tivera tempo de falar com sua mãe. Imaginou-se ao lado do presépio na praça central da cidade olhando o Menino Jesus na manjedoura; as crianças em redor com os rostos bem-aventurados.

Havia o presente do "Bom Velhinho" para os puros de espírito e seu pedido fora para sua mãe!

O coração desce morro abaixo: Zump zump zump. Ouve um bimbalhar no ar como se fossem já os sinos de Belém e anima-se. Com isso, sobe e desce o morro sem dificuldades.

Lá está a igrejinha com suas portas abertas a dezembro! Era já fim de tarde e o sol corria os últimos dedos no céu do dia. A mata circundando o restante do caminho íngreme não o assusta. Antes, acelera mais os passos erguendo os olhos: A noite está se decorando de luzes da cidade!

Entusiasmado, com as árvores citadinas enfeitadas de motivos natalinos, coloca a pata direita na frente e segue. Dentro do peito uma estrela flameja pequenina.

Noel descerá pela chaminé de seu casebre com uma braçada de capim fresco e o deixará ao lado da cama de Dona Burrica, sua mãe, com um cartãozinho escrito com as mesmas patas pequeninas que agora pisavam o chão da pracinha.

"Mãe,

Este ano quem te presenteia com um Natal especial, sou eu. Pois fui presenteado ao te ganhar de Jesus!

P.S. Abraço-te, depois da meia-noite!
De teu filho,
Burrico."

domingo, 8 de novembro de 2009

A menina do livro




No jardim da casa, ao lado da varanda há uma menina. Os grilos cantam suas campainhas e os mosquitos zunem de todos os lados. Ela, pernas cruzadas, o cabelo em rabo de cavalo, vestido de bolinhas com listas azuis, embaixo de uma frondosa mangueira, pousa os olhos no livro entre as mãos...
É tão lindo o castelo! Suas torres rasgando o espaço! Um caminho de pedras em tons esverdeados e uma roseira em cores brancas contornando-o. Podia-se ir por ele a qualquer ponto do castelo. Ouve-se uma suave canção de um piano dentro da noite! No céu, uma lua enrolada em nuvens escuras deixando um tom de mistério no ar. Porém, ela não sente medo! Segue tranqüila pela alameda de flores. Ouve vozes e sossega o coração. Mas ele não estava atribulado, ao menos julgara que não!
Um novo mundo que a encanta! Vê a sala ricamente ornada de móveis antigos. Flores em vasos de barros - jasmins, violetas, acácias e buganvílias!  Há adornos de ouro nas colunas. E lá está o piano! Não sonhara!  E a menina visualiza um menino tocando-o. Sorri para ele que lhe retribui, logo voltando a sua música, esquecido de que ela está ali. Descobre anjos desenhados nas paredes ao lado de quadros de família. Em uma das pinturas há uma menina. Aproxima-se para ver melhor. Assusta-se!
 No quadro é ela! Uma figura antiga com cores desbotadas!  Chapéu de plumas de cor róseo, um vestido de babados, uma covinha no rosto sorridente como no dela. Sapatinhos de cinderela e cachos longos e sedosos nos cabelos. A menina no quadro faz um gesto com as mãos chamando-a...
Sente o vento frio da noite. Um leve bater de janelas abrindo-se. Por cima dos móveis agora lençóis brancos- frios! As flores dos vasos murchas!  Procura pelo menino. Está lá, olhos perdidos no tempo, como a visualizar algo que ela não vê. Ouvem-se os suspiros da menina- talvez uma lágrima mansa a descer...
O negro dos olhinhos, busca amedrontado o caminho de volta. Tum... Tum... Tum! O coração sobressaltado, encolhido dentro dela. Na garganta uma voz muda que grita um nome: MÃE!
Até os grilos se assustam!  E antes que surjam os gnomos e as fadas, ela levanta-se do gramado e corre em direção a sua casa...