quinta-feira, 6 de março de 2014

A lagarta que viu o sol

Foto Google

Era uma lagarta pequena, pequena, que morava na mangueira.  Vivia presa ao tronco para ficar perto das outras. Mas à noite, sempre passeava dentro de uma folha, que fosse linda e aconchegante e sustentada por um galho bem viçoso. 
Realmente do que ela mais gostava era de uma folha macia, como um tapete novo, para acamar os pares de patinhas.  Seus pelos eram grandes e brancos que ficavam cuidadosamente em pé, como para esconder um pouco do verde da pele.
Durante as noites, sentava-se no meio de uma folha, espichava mais ainda os pelos, esperando que ficassem como espinhos sedosos, talvez por isso fossem frágeis. E, após comer um pedaço da folha em que estava (Haveria comida melhor? Não conhecia.), suspirava e caminhava: patinhas para um lado, patinhas para outro lado... Era uma graça!
Quando enchia a barriguinha, deixava-se ficar dentro de uma folha... O sorriso largo no rosto, conversando com as outras lagartas. E ficava quieta, ouvindo o nascer do dia, quando assim caminhava até o tronco da mangueira com seu grupo de amigas.
Então, houve uma noite que passou veloz e trouxe o dia num piscar de olhos... E a lagarta ficou um pouquinho mais deitada na folha...
_ Esta folha tão boa! Vou dormir só mais um minutinho...!
E ficou mais tarde... Há como o sol chegou quente!... Alguns galhos sem folhas deixaram passar os raios... Que vieram como filetes brancos, bulindo em todos os lugares... Seguiram pelas folhas que estava a lagarta (bem encolhida comprazendo-se da maciez de uma folha...) e foram aquecendo-a... Que seus pelos ficaram como fogo...
A lagarta esticou as patas de súbito: quase caiu da folha!
Por sorte, seus pelos ajudaram-na a ficar presa (quem os tocasse veria um líquido muito viscoso)... E ela levantou os olhos: tons de madeira, de galhos secos... e assustados... sem compreender...
_ Fogo, fogo, fogo...
Suas patinhas sob um corpo mole voltaram para o caminho do tronco. Os olhos corriam de um espaço a outro, buscando um percurso mais curto. E ela se foi, rebolando, rebolando, erguendo bem os pelos, sobre o tórax.
Se ela detestou o sol? Ela corria rápido, pelo medo dos raios do sol. Mas podia-se ver o brilho reluzente nos pelos sedosos, como se soltassem fogo.

E já de volta ao tronco, vagarosamente a lagarta foi se acalmando e deitou-se quieta.