sábado, 20 de fevereiro de 2010

A ESTAÇÃO FANTASMA

Era uma vez, uma cidadezinha em que o trem deixara de trafegar. O nome da cidade era Piracuruca e lá a estação ferroviária passou a ser esquecida. Perto dela, havia uma velha casa onde morava uma família: o pai, a mãe e os quatro filhos pequenos; uma menina de longos cabelos negros e três meninos que adoravam caçar tatus com o pai.

      Essas crianças eram de uma curiosidade ingênua; por que não tinha televisão nem vídeo game na época. Num fim de tarde, eu que eles estavam sozinhos em casa, seus pais haviam saído para buscar lenha no mato, resolveram brincar na calçada sombreada na frente da casa.

       A menina resolveu ir junto para levar sua boneca a um passeio vespertino. O sol se derramava laranja por detrás do telhado da estação. A menina se chamava Mimi; tinha seis anos e não podia ver algo diferente que ficava a apontar e a pular de alegria. Ao ver o colorido solar ela gritou aos irmãos que queria pegar no sol quando este caísse na calçada larga da estação. 


      Era uma criança estranha; sempre via pássaros conversando, flores sorrindo, abelhas cantando e até as formigas, segundo ela, estavam discutindo um dia quem era a mais forte para transportar uma folha que caíra num vento agitado da amendoeira no quintal da casa.
Os irmãos sempre sorriam nessas ocasiões; porém, naquele dia a menina dos cabelos negros não se conteve de ansiedade para tocar o sol e começou a correr em direção à abandonada estação. Aos meninos, só restou correr atrás.

      De repente, Mimi estacou. Seus pés começaram a tremer, seguidos do restante do corpo. Os irmãos olharam e vieram-lhe em socorro. Neste momento, ouviram os sons agitados por trás da porta antiga e gasta da estação. Alguma coisa a arranhava com unhas finas e grandes. Podia-se sentir a madeira sendo raspada: Croc... croc... croc.. em ritmos crescentes...

      Quando João, o menino mais velho, conseguiu sair do torpor inicial começou a empurrar a velha porta na direção de fora para dentro. Os irmãos que também costumavam ir caçar tatus no mato e não tinham medo de assombração o ajudaram. Apenas a menina se agarrava a sua boneca com um olho tão apertadinho de medo que todos lhe olharam compreensivos.

      Ufa!... A porta se abriu! Passou apresado por eles um cachorrinho de rabo ligeiro e foi se esconder numas tábuas perto da menina. Os olhinhos do animal tinham um ar assustado; mas havia algo mais: um sorriso de alívio. Agora estava livre!  E desandou a correm em volta dos meninos.

     Então, as crianças levaram-no para casa e deram-lhe água e um nome: Tatu.

     E todos foram brincar felizes enquanto os pais chegavam para contar do novo amiguinho.