domingo, 8 de novembro de 2009

A menina do livro




No jardim da casa, ao lado da varanda há uma menina. Os grilos cantam suas campainhas e os mosquitos zunem de todos os lados. Ela, pernas cruzadas, o cabelo em rabo de cavalo, vestido de bolinhas com listas azuis, embaixo de uma frondosa mangueira, pousa os olhos no livro entre as mãos...
É tão lindo o castelo! Suas torres rasgando o espaço! Um caminho de pedras em tons esverdeados e uma roseira em cores brancas contornando-o. Podia-se ir por ele a qualquer ponto do castelo. Ouve-se uma suave canção de um piano dentro da noite! No céu, uma lua enrolada em nuvens escuras deixando um tom de mistério no ar. Porém, ela não sente medo! Segue tranqüila pela alameda de flores. Ouve vozes e sossega o coração. Mas ele não estava atribulado, ao menos julgara que não!
Um novo mundo que a encanta! Vê a sala ricamente ornada de móveis antigos. Flores em vasos de barros - jasmins, violetas, acácias e buganvílias!  Há adornos de ouro nas colunas. E lá está o piano! Não sonhara!  E a menina visualiza um menino tocando-o. Sorri para ele que lhe retribui, logo voltando a sua música, esquecido de que ela está ali. Descobre anjos desenhados nas paredes ao lado de quadros de família. Em uma das pinturas há uma menina. Aproxima-se para ver melhor. Assusta-se!
 No quadro é ela! Uma figura antiga com cores desbotadas!  Chapéu de plumas de cor róseo, um vestido de babados, uma covinha no rosto sorridente como no dela. Sapatinhos de cinderela e cachos longos e sedosos nos cabelos. A menina no quadro faz um gesto com as mãos chamando-a...
Sente o vento frio da noite. Um leve bater de janelas abrindo-se. Por cima dos móveis agora lençóis brancos- frios! As flores dos vasos murchas!  Procura pelo menino. Está lá, olhos perdidos no tempo, como a visualizar algo que ela não vê. Ouvem-se os suspiros da menina- talvez uma lágrima mansa a descer...
O negro dos olhinhos, busca amedrontado o caminho de volta. Tum... Tum... Tum! O coração sobressaltado, encolhido dentro dela. Na garganta uma voz muda que grita um nome: MÃE!
Até os grilos se assustam!  E antes que surjam os gnomos e as fadas, ela levanta-se do gramado e corre em direção a sua casa...

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